22 de junho de 2012

Fórum – SIG Intervenções Psicanalíticas


Exclusão e inscrição psíquica: da escuta analítica no social

Fórum remete a um lugar e a uma reunião de pessoas.  Na praça pública na antiga Roma é onde acontecia o fórum: um  lugar de discussão e também um grupo de discussão.
Assim pensamos o duplo sentido de nosso encontro: fórum para demarcar um lugar para discutir na diversidade o nosso fazer. O lugar do fazer da psicanálise além do setting analítico tradicional, ou seja, de nosso consultório e um lugar delimitado por um pedido que nasce de um grupo que se encontra com um mal-estar. Amplia-se assim o lugar do individual para o de um grupo social.
Os dispositivos para este encontro continuam sendo aqueles que caracterizam e especificam  o trabalho de um analista: o binômio  escuta/fala. Um que fala e outro que escuta, ou seja, o lugar do analista que recebe o que é endereçado pelo sintoma do analisando.
Nesta primeira marcação do que é escuta[1] verificamos que o lugar de escuta analítica sempre supõe uma transferência, repetição de uma vivência histórica que o analisando não recorda e que endereça à figura do analista sob a forma de uma reação de amor ou de raiva.
Assim o lugar de escuta do analista é o da transferência desde onde pode operar. Mas a condição para que isto ocorra é que ele seja abstinente.  Ser abstinente é não atribuir sentido à fala do analisando, mas sim se colocar como objeto da transferência do analisando. Desta forma se cria um paradoxo: estar embebido do transferido, mas se abster de atribuir sentido ou julgamento.  Cria-se então o lugar da escuta e da ética.                   
Esse é o dispositivo que utilizamos em nossas intervenções: criar um espaço/lugar de escuta que favoreça a fala dos sujeitos de um grupo que enfrenta um sofrimento. Cria-se um espaço intersubjetivo onde enigmas podem ser identificados e decifrados a partir do ato de escutar-se, que coloca a todos imersos no compromisso ético. Pensamos que a mudança de enquadre do individual para o coletivo, em situações de grupos em instituições de educação e saúde sejam favorecedoras desta experiência de transferência e da fala e passam a diminuir a resistência diante do fazer.
Diferenciamos claramente a abstinência necessária à criação de um espaço de escuta daquilo que é chamado equivocadamente de neutralidade. Estamos de acordo com Soares[2] quando diz ser necessária a convicção em qualquer ato, pois a ação incide em um futuro que jamais será neutro. Nesta perspectiva não somos neutros em nosso fazer. Estamos sim comprometidos com os dispositivos analíticos em novos espaços onde o falar dá lugar a uma mudança.
O sofrimento social tem a que ver com o fato de que há grande quantidade de pessoas que não tem inscrição, tem perdido ou tem sido despojada de suas inscrições como pessoas. Este estado de exclusão /invisibilidade se repete, muitas vezes, nas instituições que se ocupam com estas pessoas. Buscar novas formas de inscrição é possível através da dialógica da fala e da escuta, que dá lugar à inclusão social.
Podemos pensar que toda política de exclusão se emparelha com a injustiça, quando “impõe a uma pessoa um único destino e uma identidade fabricada com preconceitos que corresponde a destruir sua liberdade e aprisioná-la em uma única e invariável possibilidade de ser”.[3] É onde presenciamos muitas vezes a violência do educar e do curar.     
Assim, pensamos junto com Daniel Olesker[4] que trabalhar com um modelo de política social inclusiva requer como critérios: que cada um tenha ingresso segundo suas necessidades; que haja um caráter universalista de acesso; que ocorra a condução do estado; que haja participação social.
Juntamo-nos a essa proposta pensando nossa prática.  


Programa Preliminar
Dias 03 e 04 de agosto de 2012

Sexta-feira  18h30min  Abertura
                    18h45min  Mesa:  Educação em contextos de vulnerabilidade
                    20h45min  Lançamento da Revista da SIG


Sábado 9h00min Mesa: O mal-estar na saúde: da violência à diferença Intervalo
             11h00min  Mesa: Políticas inclusivas




[1] Todas as referências sobre a escuta e a abstinência são extraídas do trabalho Escuta: quando a abstinência se constitui, de Denise Hausen e Bárbara Conte. Revista do CEP de PA. Vol.16. 2009.
[2] Comunicação de Luis Eduardo Soares na Jornada da Sigmund Freud Associação Psicanalítica. 2009
[3] Soares, L.E. Justiça: pensando alto sobre violência, crime e castigo. Nova Fronteira. P.47. 2011.
[4] Economista e Ministro do Desenvolvimento Social do Uruguai, em sua fala no III Colóquio de Emergência Social: Fragmentação-Integração. Maio de 2012.