Em uma atividade com crianças carentes da comunidade a menina diz para a voluntária “o menino está passando a mão na minha amiga”. É um fato que revela a curiosidade sexual de crianças que exploram o corpo ou é a denúncia de que seu corpo é invadido pela sexualidade de um adulto e ele repete o ato com a amiga? O que é a sexualidade infantil ou sua variação traumática e intrusiva que é o abuso sexual? A equipe do Interagir nos chamou para ouvir e falar sobre a sexualidade em suas múltiplas versões.
Foi um dia de muito frio em agosto de 2009, mas que se transformou em um caloroso encontro onde experiências, dúvidas e inquietudes foram partilhadas a partir da vivência prática de voluntários que participam do projeto social do Sport Club Internacional e de psicanalistas da Sigmund Freud Associação Psicanalítica.
O que é a Sigmund Freud Associação Psicanalítica? Uma instituição que há 21 anos está dedicada à transmissão e à formação em psicanálise e que oferece atendimento privado em sua Clínica Psicanalítica. Além disso, considera que há especificidades da infância, da adolescência e de adultos em diversos espaços educacionais, recreativos e pedagógicos que podem ser pensados com os recursos da psicanálise, o que resulta em intervenções psicanalíticas para além do espaço institucional privado. Assim nasceu o Projeto SIG - Intervenções Psicanalíticas.
Tendo em nosso nome a marca do fundador da psicanálise, não poderíamos deixar de citá-lo para fazer clara nossa idéia de que o individual e o social são objetos da psicanálise: “é verdade que a psicologia individual se restringe ao ser humano singular e estuda os caminhos pelos quais busca alcançar a satisfação de suas pulsões. Porém, raramente, sob determinadas condições de exceção, pode prescindir dos vínculos deste indivíduo com outros. Na vida psíquica do indivíduo, o outro está como modelo, como objeto, como auxiliar e como inimigo, e por isso desde o começo a psicologia individual é simultaneamente psicologia social neste sentido mais lato, porém inteiramente legítimo”. (Freud,1921,p.67)
Estas idéias de Freud inspiram nossa proposta de pensar o sujeito em seu processo histórico e social. Utilizamos a psicanálise, em seus pressupostos, para promover, a partir da escuta, capacitação, assessoria e treinamento de diferentes grupos e instituições de Porto Alegre, que desenvolvem projetos na rede pública ou privada onde a ênfase é o trabalho de inclusão/exclusão social.
Nosso momento inaugural desta proposta foi através do encontro com os voluntários e a psicóloga do Projeto Interagir. A idéia de um projeto de responsabilidade social como o do Inter, pode ser pensada na perspectiva de um comprometimento com sujeitos em um singular processo de transformação.
Neste sentido, pensamos o voluntariado como um engajamento civil que se organiza em torno de uma causa, na qual se engajam cidadãos comprometidos com uma mudança social. Esta é uma nova modalidade de voluntariado técnico, que se propõe não a um assistencialismo, mas sim a um movimento de rede que trabalhe nas alterações das relações sociais. Assim, entendemos que as ações possam ser transformadoras. O Interagir e a SIG, naquele encontro, fizeram a ação se tornar transformadora.
A Sigmund Freud Associação Psicanalítica continua seu caminho, estabelecendo novas parcerias e tratando de efetivar intervenções psicanalíticas que oportunizem mudanças na sociedade por meio da inclusão de sujeitos na rede social.
Bárbara de Souza Conte. Psicanalista. Doutora em Psicologia.
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