16 de maio de 2011

SIG Intervenções Psicanalíticas

         A intervenção está proposta a partir da escuta psicanalítica, tendo como ponto de referência o grupo, o lugar de pertencimento de seus membros e o movimento identificatório.

            “A psicologia de grupo interessa-se assim pelo indivíduo como membro de uma raça, de uma nação, de uma casta, de uma profissão, de uma instituição, ou como parte componente de uma multidão de pessoas que se organizaram em grupo, numa ocasião determinada, para um intuito definido.” (Freud, 1921. p. 92)

            Freud, em Psicologia das Massas e Análise do Ego, formula questões a partir de um fato que, uma vez que um indivíduo seja incluído em uma reunião de pessoas, passa a sentir, agir e pensar de maneira inteiramente diferente da esperada. A condição para isso é a sua inclusão numa reunião de pessoas que adquiriu a característica de um ‘grupo psicológico’.

            No grupo SIG Intervenções Psicanalíticas, iniciamos o estudo de que seria o lugar do psicanalista à frente de grupos que buscam situar-se enquanto grupo.  A proposta de escuta foi formulada a partir das seguintes ações: ouvir a fala do grupo a partir de que cada membro possa situar-se no grupo como indivíduo deste grupo. Escutar o que significa estar em grupo, a fim de que cada um possa se escutar a partir do seu lugar e buscar apropriar-se deste lugar. O lugar de pertinência de cada um num grupo.

Cabe clarear o significado e a diferença entre pertencer e ser pertinente:

            Pertencer, segundo Aurélio(1977) significa: 1. Ser propriedade ou parte de. 2. Dizer respeito. 3. Ser próprio ou característico de. 4. Caber, competir.
            Pertinente, segundo o mesmo autor, significa: 1. Relativo,concernente. 2. Que vem a propósito

            Um grupo movimenta-se a partir da inclusão de um indivíduo e um indivíduo movimenta-se a partir da inclusão em um grupo. Como escutar o que é dito em um grupo a partir deste movimento? O lugar de abstinência de quem escuta a partir do referencial da Psicanálise é o lugar de não satisfazer o pedido de inclusão ao grupo. Alguém que ali está, mas não pertence.


         Retomando o mesmo texto em Freud, no capítulo Estar Amando e Hipnose, ele diferencia identificação da situação na qual o objeto é colocado no lugar do ego ou do ideal de ego:  “é fácil agora definir a diferença entre a identificação e esse desenvolvimento tão extremo do estado de estar amando, que podem ser descritos como ‘fascinação’ ou ‘servidão’. No primeiro caso, o ego enriqueceu-se com as propriedades do objeto, ‘introjetou’ o objeto a si próprio, como Ferenczi(1909) o expressa. No segundo caso, empobreceu-se, entregou-se ao objeto, substituiu o seu contribuinte mais importante pelo objeto(...)No caso da identificação, o objeto foi perdido ou abandonado; assim ele é novamente erigido dentro do ego e este efetua uma alteração parcial em si próprio, segundo o modelo do objeto perdido No outro caso, o objeto é mantido e dá-se uma hipercatexia dele pelo ego e às expensas do ego”(Freud, 1921.p.144)

            A escuta de um indivíduo que propicie apropriar-se de seu lugar remete a este ponto da identificação. Nomear a que se identifica a partir da referência de seu lugar. Ou seja, a partir do grupo, descobre sua identificação. A intervenção proposta a partir da escuta psicanalítica ocorre a partir da própria escuta a partir de um ponto de referência sem o investimento no mesmo ideal. Isso é identificado com o grupo, mas sem pertencer ao mesmo grupo.
           
O lugar não sendo fixo, mas sendo um lugar em movimento, abre espaço para busca de referência do grupo a partir de seu movimento e não a partir de uma referência de fora. Podemos dizer que o objeto perdido, nestes casos, é o lugar de alguém que conduz a partir de um saber. Isso está perdido e é pedido.
           
Tendo claro que a orientação fundamental do lugar do psicanalista é não pertencer ao grupo e o objetivo é que cada um escute qual é o seu lugar de pertencimento ao grupo para que possa identificar-se, traçamos a nossa referência e a possibilidade que o grupo possa escutar seu movimento.
                                                              Simone Engbrech, psicanalista. Membro do Projeto. 

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