Nosso
encontro foi de muita troca, discussão e emoção. As histórias das vidas / grupos narradas em
cada uma das exposições se entrelaçaram com as experiências que foram para nós
os momentos e situações de nossas escutas.
A primeira
mesa: Educação em contextos de
vulnerabilidade teve como mote os grupos que realizamos na rede municipal.
Experiências inaugurais onde trabalhamos a inclusão/exclusão na perspectiva das
diferenças geracionais e do lugar de dupla inscrição que um grupo de
professores/supervisores ocupa frente à proposta institucional da inclusão de
crianças com cuidados especiais nas escolas de primeiro grau. Contamos com a
participação da Ana Maira Zortéia, que iniciou sua fala nos contando de uma
foto/cena que retrata os múltiplos e diferentes pares de sapatos deixados na
entrada de uma sala de aula: sapatos mais e menos novos, modernos, estragados,
antigos, coloridos ... marcando a diversidade de “sair da cerquinha” e o paradoxo da sociedade excludente frente a uma
escola inclusiva. Discussão que versou sobre o saber como um processo que nunca
acaba e o necessário reconhecimento entre os pares. Importância das redes, da
infância como lugar de potência. Lugar das crianças, dos professores, como
produtores de trabalho/aprendizagem e o nosso enquanto psicanalistas que
propomos uma escuta, um lugar de transferência para falar do sintoma e do
subjetivo.
A segunda
mesa: O mal-estar na saúde: da violência
à diferença, apresentou a loucura e o “estrangeiro”, como aquele
inquietante, não familiar, o Unheimliche que
nos falou Freud. A partir da fala dos grupos discutimos o tema da diferença não
só na perspectiva da diversidade, mas também da (in)diferença que faz com que o
outro seja estranho, gerando violência. Violência que advém da identificação
dos membros do grupo com a loucura (em um grupo), e violência frente à entrada
de novas pessoas em (outro) grupo de voluntários, onde se passa a mesma
inquietude: a percepção da invasão. Fecha-se o caminho para o reconhecimento do
outro como aquele que pode agregar, persiste o mal-estar. Aí instala-se nossa
intervenção. Neste entre – lugares
desenvolveu-se a fala de Ana Lucia Marsillac que a partir da arte correio de
Paulo Bruscky, abordou a saúde coletiva e o ato analítico a partir de uma mesma
concepção ética, ressaltando, no entanto, como ainda ocorre uma dissociação
entre estes dois campos na produção da saúde. Diagnosticados e não
diagnosticados a partir do projeto Radio Nikosia, ilustra a proposta de
expressar o “corpo louco” na consigna “saca a pasear tu loucura”, resposta de
produção de subjetividade frente à individualidade que aliena o sujeito.
A terceira mesa: O
trauma e as recomposições do sujeito abordou o trabalho com os refugiados
que a ASAV/ACNUR realiza no RS e a parceria com nosso Projeto. A apresentação
da Karin Wapechowski foi marcada pelo relato as experiências de impasse frente
ao sentimento de impotência e de ação no trabalho de reassentamento solidário.
A temporalidade foi o tema marcante nesta discussão que reúne o tempo real na
experiência de inclusão do refugiado em outro país/cultura e o tempo de
elaboração do traumático da vivência de se tornar um refugiado/ excluído de si
e de sua cultura. O trabalho realizado com um grupo deste programa revelou como
o corpo, como alternativa de mostrar a intensidade do vivido, torna-se, por
vezes a única alternativa de expressão para quem não tem o direito à fala. O
tempo necessário para a elaboração do trauma e o tempo de escuta possível com
esses sujeitos, foi o centro da discussão que evidencia a potência da
psicanálise na escuta de sujeitos nos diferentes espaços internos/externos,
assim como Garcia Marques nos legou em Cem Anos de Solidão.