13 de agosto de 2012

Projeto SIG Intervenções Psicanalíticas Fórum – Exclusão e Inscrições Psíquicas: da escuta psicanalítica no social


Nosso encontro foi de muita troca, discussão e emoção.  As histórias das vidas / grupos narradas em cada uma das exposições se entrelaçaram com as experiências que foram para nós os momentos e situações de nossas escutas.

A primeira mesa: Educação em contextos de vulnerabilidade teve como mote os grupos que realizamos na rede municipal. Experiências inaugurais onde trabalhamos a inclusão/exclusão na perspectiva das diferenças geracionais e do lugar de dupla inscrição que um grupo de professores/supervisores ocupa frente à proposta institucional da inclusão de crianças com cuidados especiais nas escolas de primeiro grau. Contamos com a participação da Ana Maira Zortéia, que iniciou sua fala nos contando de uma foto/cena que retrata os múltiplos e diferentes pares de sapatos deixados na entrada de uma sala de aula: sapatos mais e menos novos, modernos, estragados, antigos, coloridos ... marcando a diversidade de “sair da cerquinha” e o  paradoxo da sociedade excludente frente a uma escola inclusiva. Discussão que versou sobre o saber como um processo que nunca acaba e o necessário reconhecimento entre os pares. Importância das redes, da infância como lugar de potência. Lugar das crianças, dos professores, como produtores de trabalho/aprendizagem e o nosso enquanto psicanalistas que propomos uma escuta, um lugar de transferência para falar do sintoma e do subjetivo.

A segunda mesa: O mal-estar na saúde: da violência à diferença, apresentou a loucura e o “estrangeiro”, como aquele inquietante, não familiar, o Unheimliche que nos falou Freud. A partir da fala dos grupos discutimos o tema da diferença não só na perspectiva da diversidade, mas também da (in)diferença que faz com que o outro seja estranho, gerando violência. Violência que advém da identificação dos membros do grupo com a loucura (em um grupo), e violência frente à entrada de novas pessoas em (outro) grupo de voluntários, onde se passa a mesma inquietude: a percepção da invasão. Fecha-se o caminho para o reconhecimento do outro como aquele que pode agregar, persiste o mal-estar. Aí instala-se nossa intervenção.  Neste entre – lugares desenvolveu-se a fala de Ana Lucia Marsillac que a partir da arte correio de Paulo Bruscky, abordou a saúde coletiva e o ato analítico a partir de uma mesma concepção ética, ressaltando, no entanto, como ainda ocorre uma dissociação entre estes dois campos na produção da saúde. Diagnosticados e não diagnosticados a partir do projeto Radio Nikosia, ilustra a proposta de expressar o “corpo louco” na consigna “saca a pasear tu loucura”, resposta de produção de subjetividade frente à individualidade que aliena o sujeito.
                                       
A terceira mesa: O trauma e as recomposições do sujeito abordou o trabalho com os refugiados que a ASAV/ACNUR realiza no RS e a parceria com nosso Projeto. A apresentação da Karin Wapechowski foi marcada pelo relato as experiências de impasse frente ao sentimento de impotência e de ação no trabalho de reassentamento solidário. A temporalidade foi o tema marcante nesta discussão que reúne o tempo real na experiência de inclusão do refugiado em outro país/cultura e o tempo de elaboração do traumático da vivência de se tornar um refugiado/ excluído de si e de sua cultura. O trabalho realizado com um grupo deste programa revelou como o corpo, como alternativa de mostrar a intensidade do vivido, torna-se, por vezes a única alternativa de expressão para quem não tem o direito à fala. O tempo necessário para a elaboração do trauma e o tempo de escuta possível com esses sujeitos, foi o centro da discussão que evidencia a potência da psicanálise na escuta de sujeitos nos diferentes espaços internos/externos, assim como Garcia Marques nos legou em Cem Anos de Solidão.

Foi uma experiência compartilhada que revigora nossas práticas e nossos saberes. O projeto SIG Intervenções Psicanalíticas ampliou-se com a troca entre pares e convidados e fortaleceu a proposta da escuta psicanalítica no social.