25 de julho de 2011

Cronagrama do Rodas de Conversa


Rodas de Conversa parceria da ESP/RS e o instituto APPOA: Articulando Psicanálise e saúde coletiva

Cronograma 2011

28/03/2011 - Saúde Mental na Assistência Social: Dispositivos Clínicos.
Proponentes: Maria de Lourdes Scarparo, Luciane Susin e Janete Nunes
Soares (FASC)
Interlocutoras: Ana Gageiro e Sandra D. Torossian (UFRGS e Instituto
APPOA).

04/04/2011 -  Terapia Comunitária e outras ferramentas em saúde/saúdemental
Proponente: Carlos Guarnieri (Ação Rua)
Interlocutor: Manoel da Rocha Mayer Jr. (FASC e ESP-RS)

02/05/2011 - Uma via de mão dupla: psicanálise e saúde coletiva na perspectiva da RIS (a confirmar).
Propontes: Paula Adamy; Lívia Zanchet e Carina Corrêa da Silva (ResidentesESP)
Interlocutores: Rose Teresinha da Rocha Mayer (CRRD/ESP) e Analice Palombini (UFRGS).

06/06/2011 - Crise: Psicanálise e Saúde Coletiva
Proponente: Ricardo Lugon (Psiquiatra e Psicanalista Infantil – Novo Hamburgo)
Interlocutora: Maria Gabriela Godoy (GHC/CAPS Alcool e Drogas)

04/07/2011 - Tratamentos integrativos e complementares e a Saúde Coletiva
Proponente: Silvia Czermainski (Escola de Saúde Pública/Núcleo de Estudos e Pesquisas em Assistência Farmacêutica/Rede Fito Pampa).
Interlocutores: Renata Almeida (médica, psicanalista – Instituto APPOA)

01/08/2011 – O IPF em questão
Proponente: Grupo de Trabalho Intersetorial (Vara de Execuções de Penas e Medidas Alternativas, Saúde Mental do Estado, Pensão Nova Vida, Escola de Saúde Pública, Ministério Público, IPF)
Interlocutores: Maria Palma Wolff (PUC/RS).

05/09/2011 – Pesquisa sobre o Suicídio
Proponente:  Grupo de Pesquisa UFRGS-ESP-FIOCRUZ
Interlocutor: André Brayner de Farias (PUC/RS) contribuirá com considerações éticas sobre violência, abandono e saúde coletiva.

10/10/2011 – O que a psicanálise pode contribuir à Atenção Básica?
Proponente: Eliana Mello (GHC, Instituto APPOA)
Interlocutores: Ana Carolina Simoni (a confirmar)

07/11/2011 – Sobre Grupos: possibilidades e limites
Proponente: Jaime Betts (Instituto APPOA) 
Interlocutores: a definir.

05/12/2011 - Sig Intervenções Psicanalíticas
Proponente: Bárbara Conte e equipe do projeto (Sigmund Freud Associação Psicanalítica)
Interlocutor: Claúdia Perrone


Grupos de Investigação

Prezados colegas,

é com satisfação que divulgamos o início de novos grupos de investigação que ocorrerão na SIG a partir de agosto de 2011: A construção dos laços de filiação das novas tecnologias reprodutivas, sextas feiras 15,30, quinzenal, iniciando dia 19 de agosto com a mediação de Débora Marcondes Farinati e O que pode um corpo?, com convênio com o Centro de Estudos de Filosofia da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa, sextas 15,30, quinzenal iniciando 26 de agosto com a mediação de Karin Wondracek.

Os grupos de investigação são atividades abertas a profissionais interessados nos temas estudados e não tem custo. A proposta é a discussão teórica e a produção de artigo científico, a partir do estudo.
Informações e inscrição na secretaria da SIG, fone 30627400.
Atenciosamente,

Bárbara de Souza Conte
Diretora de Ensino 

“O bagulho é doido mermão!”

“ ...  já vou ficar no lucro se passar dos dezoito,
depois que escurece o bagulho é doido. O mesmo dinheiro
Que salva também mata...”
( O bagulho é doido -  MV Bill)


Desenvolver o Eixo III do Programa RS Sócioeducativo do Governo Estadual, que consiste em uma casa de internação de adolescentes em conflito com a lei, em regime de semiliberdade, é muito inquietante e desafiador; abre dúvidas e angústias que nos levam a refletir: que questões se passaram com este adolescente ou  que escolhas fez para chegar onde está? Foi possibilidade de escolha ou falta desta? Implicados nisto estão apenas o adolescente e seus familiares ou também: o adulto receptador de produtos furtados, a professora da creche que não suportou a tal “hiperatividade” do aluno e o retirava constantemente da sala, os técnicos que atendiam crianças em secretarias de saúde e assistência social, os familiares que aceitavam “presentes” sem saber de onde vinham? Ou os “playboys” que pelo seu vício sustentam os “vendedores” e quem sabe “demais violências”?
                        Ao ouvir os adolescentes e seus familiares, deflagram-se diversas formas de carências, além das materiais, muitas de ordem psíquica, onde fica explicito em fragmentos de relatos como quando uma mãe nos diz: “eu fico mais calma quando ele tá lá” (se referindo a internação), nos apontando que por algum motivo lhe escapa a possibilidade de contenção deste filho, lhe escapa sua função de proteger  e dar limites a “cria”. Ao que percebemos, construiram maneiras  de sobreviver, de poder suportar o dia a dia, que se apresenta cheia de fragilidades, limitações, frustrações e de perdas. E, sem perceberem buscam ativamente estas perdas em cada tragada na “pedra”  ou envolvimento com amigos que são “apagados” na noite.
            Tendo a psicanálise como escolha pessoal de suporte teórico e sabendo que seu objetivo é de uma escuta desprovida de julgamentos e de nunca ir a frente mas sim, caminhando ao lado ou atrás do sujeito, penso que é necessário não só levantar questionamentos sobre este (adolescente)  e suas formas de viver, como é preciso uma psicanálise que  faça uma leitura do mundo externo, do de fora, do mundo da cultura, conhecida em Freud como “psicanálise aplicada” ou como“psicanálise extra muros” por Laplanche, sendo aquela que se propõe como uma ciência para pensar os fenômenos sociais e trabalhar com a vida humana onde ela se apresente. Até porque a adolescência é uma transição entre o laço familiar e o laço social.
            Assim, é oportuno uma crítica quanto ao nosso discurso social, que ecoa nas ruas, dizendo que são  drogados, sociopatas, e uma infinidade de rótulos, diagnósticos e olhares que os colocam num lugar marginal, no lugar de alguém que deve ser trancafiado, excluído do convívio com os demais, “criaturas” sem possibilidades de transformação. Não seria isto uma forma simples de tirarmos nossa responsabilidade enquanto cidadãos, adultos, modelos de identificação? Então o que é “bom” está em mim, o que é “mau” está no outro? Não seríamos nós, os atravessados pela Lei que repassamos valores aos sujeitos em constituição (crianças e adolescentes) para que possam viver em sociedade? Que valores são estes? De que o que vale é o “que se tem” e não “quem se tem”? O peso do ato de um jovem da periferia, privado de recursos econômicos e psíquicos, pesa mais na justa balança de nossa moral do que o roubo à população feita pelos políticos com graduação superior, ou dos filhos de diplomados que colocam fogo em índios,ou machucam negros, mendigos ou homossexuais? De onde vem esta violência, dos que devem estar “internos” em restrição de liberdade ou dos ditos cidadãos respeitados que circulam por aí? Como diria o rapper MV Bill: “teu pai te dá dinheiro/ você vem e investe/ no futuro da nação/ compra pó na minha mão/ depois me xinga na televisão/ na sequência vai pra passeata levantar cartaz/ chorando e com as mãos sinalizando o símbolo da paz...o rico me odeia e financia minha munição...a droga que você usa é batizada com sangue/ é mais financiamento/mais armas/bang-bang”
            No tocante ao trabalho no CASEMI (Centro de Atendimento Socioeducatvo em Semiliberdade), penso que este deve estar atravessado de uma escuta clínica implicada na proposta de oferecer aos adolescentes um lugar de sujeito olhado, escutado. Buscando no trabalho com estes, os significados inconscientes das suas “caminhadas”. Levantando interrogantes para que possam “se pensar”, produzindo um efeito em suas atitudes e suas escolhas futuras. A intervenção analítica deve buscar nesta relação a dois criar uma nova condição nestes sujeitos, como também, uma possibilidade de que possam denunciar os abusos que pensam ter sofrido (ou realmente tenham sofrido!), de uma sociedade onde o narcotráfico oferta mais vagas de emprego do que o Segundo Setor da economia do país; onde, quem sabe, o “pai” traficante não possibilita só um prato de comida para o autoconservativo como também a possibilidade de um olhar que lhes faltou, que lhes reconhecesse enquanto sujeito, trazendo “amparo”, “reconhecimento”, “pertencimento”? Nesse sentido é oportuno resgatar um pensamento do psicanalista Jacques Lacan: “que o sujeito só passa a existir a partir do olhar de reconhecimento do Outro”.  Portanto, que possamos com este trabalho, reconhecê-los como sujeitos de existência psíquica, responsáveis pela sua história e com sua vida.
            Enfim, para quem pensa que apenas a punição ou a restrição (internação) é a solução desta conflitiva, vem MV Bill em sua canção “O bagulho é doido” respondendo: “...se eu morrer nasce outro que nem eu, ou pior, ou melhor...”, assinala uma sentença, um destino, que acreditamos que para ser mudado devemos como sociedade pensar em estratégias de prevenção, de um olhar de constituição a nossas crianças e adolescentes como forma de poderem ter recursos internos em postergar o prazer e suportar as castrações da vida, isto é fazer surgir ligações afetivas continentes associada a garantias de direito sociais. Só assim, através do abastecimento da vida que teremos a abstenção das drogas e demais aderências da ordem da morte, tanto dos “playboys” quanto dos “manos”.

Pedro A. Pouzada Mandelli
Psicólogo do Centro de Atendimento Socioeducativo em Semiliberdade
CASEMI - Passo Fundo/RS

7 de julho de 2011

De qual realidade falamos?


            Com o desenvolvimento do conceito de inconsciente na obra freudiana, a compreensão da diferença entre a percepção consciente e a realidade externa foi sendo marcada. Em nossa investigação de mundo, abre-se espaço também à investigação sobre nossas percepções. Nosso ponto de vista pode se alterar, sem que para isso tenhamos mudado de lugar ou a realidade tenha se modificado.
Freud, ao escrever a Fliess que não acreditava mais ‘em sua neurótica’, não desconfiou do que lhe era dito, mas descobriu que o que cada um traz como sua história vivida não é a mesma coisa que os acontecimentos concretos. Uma investigação psicanalítica não parte apenas da diferença entre a realidade externa e a psíquica, mas das contradições dentro do relato de cada um sobre a sua própria percepção.
            Sonhos, fantasias, alucinações, devaneios estabelecem maneiras diversas de afastar-se da realidade. Na psicose, há um afastamento extremo da realidade, mas, na verdade, todo neurótico dá às costas a um fragmento dela. Por que este afastamento da realidade na psicopatologia? Em 1911, Freud, considerou que dar às costas à realidade está relacionado ao que é insuportável da realidade.  Insuportável!
            Refletimos, a partir disso, sobre o que é insuportável na realidade? O conceito de insuportável deve ser claro para que esta pergunta possa ser realmente uma abertura de investigação psicanalítica. O que afasta não é  simplesmente o ruim. Não apenas em 1920, ao desenvolver o que está além do princípio do prazer, mas dentro de toda obra, encontramos a preocupação com o teste de realidade. Porém, depois do conceito de compulsão à repetição, a compreensão de que há uma tendência a repetir o caminho mais facilitado, a repetir o caminho já trilhado, aponta que, para suportarmos um caminho, outros caminhos apenas abertos para repetir devem estar inibidos.  Portanto, para que algo seja suportável, não basta uma adaptação, nem um apoio, mas um lugar onde possa haver uma distinção entre o percebido e o lembrado. Entre o repetido e o novo. Entre o juízo e o julgamento.
A diferença entre juízo e julgamento é fundamental para compreensão do lugar da psicanálise. A dor, o sofrimento psíquico, a loucura, é um campo aberto para a identificação e o medo. Escutar, refletir sobre o realizado, e não sobre o que fazer com as idéias é a ação fundamental que separa as idéias do campo da descarga. Pensar sobre o que fazer com o que se sente e o que se pensa não é o campo da psicanálise. Refletir sobre o que se pensa e sobre o que se percebe do que se pensa é escutar sobre o seu lugar. Este é o campo de investigação psicanalítica.

Simone Engbrecht