Exclusão
e inscrição psíquica: da escuta analítica no social
Fórum remete a um
lugar e a uma reunião de pessoas. Na
praça pública na antiga Roma é onde acontecia o fórum: um lugar de discussão e também um grupo de
discussão.
Assim pensamos o duplo sentido de nosso encontro: fórum para
demarcar um lugar para discutir na diversidade o nosso fazer. O lugar do fazer
da psicanálise além do setting analítico tradicional, ou seja, de nosso
consultório e um lugar delimitado por um pedido que nasce de um grupo que se
encontra com um mal-estar. Amplia-se assim o lugar do individual para o de um
grupo social.
Os dispositivos para este encontro continuam sendo aqueles
que caracterizam e especificam o
trabalho de um analista: o binômio
escuta/fala. Um que fala e outro que escuta, ou seja, o lugar do
analista que recebe o que é endereçado pelo sintoma do analisando.
Nesta primeira marcação do que é escuta[1]
verificamos que o lugar de escuta analítica sempre supõe uma transferência,
repetição de uma vivência histórica que o analisando não recorda e que endereça
à figura do analista sob a forma de uma reação de amor ou de raiva.
Assim o lugar de escuta do analista é o da transferência
desde onde pode operar. Mas a condição para que isto ocorra é que ele seja
abstinente. Ser abstinente é não
atribuir sentido à fala do analisando, mas sim se colocar como objeto da
transferência do analisando. Desta forma se cria um paradoxo: estar embebido do
transferido, mas se abster de atribuir sentido ou julgamento. Cria-se então o lugar da escuta e da
ética.
Esse é o dispositivo que utilizamos em nossas intervenções:
criar um espaço/lugar de escuta que favoreça a fala dos sujeitos de um grupo
que enfrenta um sofrimento. Cria-se um espaço intersubjetivo onde enigmas podem
ser identificados e decifrados a partir do ato de escutar-se, que coloca a
todos imersos no compromisso ético. Pensamos que a mudança de enquadre do
individual para o coletivo, em situações de grupos em instituições de educação
e saúde sejam favorecedoras desta experiência de transferência e da fala e passam
a diminuir a resistência diante do fazer.
Diferenciamos claramente a abstinência necessária à criação
de um espaço de escuta daquilo que é chamado equivocadamente de neutralidade.
Estamos de acordo com Soares[2]
quando diz ser necessária a convicção em qualquer ato, pois a ação incide em um
futuro que jamais será neutro. Nesta perspectiva não somos neutros em nosso
fazer. Estamos sim comprometidos com os dispositivos analíticos em novos
espaços onde o falar dá lugar a uma mudança.
O sofrimento social tem a que ver com o fato de que há
grande quantidade de pessoas que não tem inscrição, tem perdido ou tem sido
despojada de suas inscrições como pessoas. Este estado de exclusão
/invisibilidade se repete, muitas vezes, nas instituições que se ocupam com
estas pessoas. Buscar novas formas de inscrição é possível através da dialógica
da fala e da escuta, que dá lugar à inclusão social.
Podemos pensar que toda política de exclusão se emparelha
com a injustiça, quando “impõe a uma pessoa um único destino e uma identidade
fabricada com preconceitos que corresponde a destruir sua liberdade e
aprisioná-la em uma única e invariável possibilidade de ser”.[3]
É onde presenciamos muitas vezes a violência do educar e do curar.
Assim, pensamos junto com Daniel Olesker[4]
que trabalhar com um modelo de política social inclusiva requer como critérios:
que cada um tenha ingresso segundo suas necessidades; que haja um caráter
universalista de acesso; que ocorra a condução do estado; que haja participação
social.
Juntamo-nos a essa proposta pensando nossa prática.
Programa Preliminar
Dias
03 e 04 de agosto de 2012
Sexta-feira 18h30min Abertura
18h45min Mesa: Educação em contextos de vulnerabilidade
20h45min Lançamento da Revista da SIG
Sábado 9h00min Mesa:
O mal-estar na saúde: da violência à diferença Intervalo
11h00min Mesa: Políticas inclusivas
[1]
Todas as referências sobre a escuta e a abstinência são extraídas do trabalho
Escuta: quando a abstinência se constitui, de Denise Hausen e Bárbara Conte.
Revista do CEP de PA. Vol.16. 2009.
[2]
Comunicação de Luis Eduardo Soares na Jornada da Sigmund Freud Associação
Psicanalítica. 2009
[3]
Soares, L.E. Justiça: pensando alto sobre violência, crime e castigo. Nova
Fronteira. P.47. 2011.
[4]
Economista e Ministro do Desenvolvimento Social do Uruguai, em sua fala no III
Colóquio de Emergência Social: Fragmentação-Integração. Maio de 2012.
Um comentário:
Queridas e querido,
Compartilho dos sentimentos de vocês.
É um grande prazer trabalhar com cada um de vocês.
Agradeço imensamente à Karin, por coordenar a equipe do Programa. E a Bárbara, por coordenar o Projeto Sig Intervenções.
E, dias como o de sábado dão sentido as palavras de melquíades: as coisas tem vida própria. tudo é uma questão de despertar sua alma.
beijos, abraços, despertos de alma
Liege
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