22 de novembro de 2011

Rodas de conversa, parceria da Escola de Saúde Pública e o Instituto APPOA

Partindo do tema da inclusão/exclusão propomos apresentar o percurso do grupo de escuta que desenvolvemos junto aos professores da Secretaria Municipal de Educação, no trabalho que desenvolvem no programa de Educação Precoce/Psicopedagogia Inicial, com crianças de 0 a 6 anos com problemas de autismo, psicose, deficiência mental, visual, auditiva e motora e que recebem atendimento especial com vista ao ingresso em escolas de primeiro grau. A proposta é discutir a interrelação entre a psicanálise e a educação a partir do dispositivo da escuta analítica.

Proponente: SIG Intervenções Psicanalíticas - Bárbara Conte e Eneida Braga.

Interlocutora: Cláudia Perrone

Local: Escola de Saúde Pública - Av. Ipiranga 6311, sala 05

Dia 05 de dezembro, segunda -feira, às 20h 30min

13 de setembro de 2011

Em Cena: Ciclo de Debate em Filosofia e Psicanálise: desafios do sujeito

Clique na imagem para aumentá-la.

O autismo na pauta de discussões



No dia 12 de setembro, a psicanalista Rosane Padilha, representando a Sigmund Freud Associação Psicanalítica, concedeu entrevista à jornalista Lívia Meimes, do Jornal Zero Hora, Caderno Meu Filho, página central, abordando o tema Autismo sob o título: "Universo enigmático - O ambiente como terapia". Sobre a entrevistada e o tema, assim abordou o jornal: “O autismo também pode ser trata­
do por meio da psicanálise.
- A diferença é que a psicanálise não considera padrões de normalida­de, e sim pela diferença. Ela enxerga o autismo como um isolamento do mundo, uma proteção, uma defesa - observa a psicóloga Rosane Padilha, doutora na área pela Paris VII, que está ministrando, na Capital, o Atelier de Psicanálise do Autismo, para profis­sionais que lidam com esses pacientes (informações em www.www.sig.org.br).”

8 de agosto de 2011

Cronograma do Curso EPE para o segundo semestre

Espaço Psicanalítico para Estudantes

O EPE tem como proposta estudos que viabilizem a aproximação com a psicanálise a partir de seus fundamentos teóricos. Esse espaço oferece a estudantes de graduação Grupos de Estudo, Cursos, Palestras e Debates. Além das atividades programadas, outras podem ser organizadas a partir dos interesses daqueles que querem conhecer a psicanálise e sua transmissão na Sigmund Freud Associação Psicanalítica.




Programa EPE segundo semestre: 

13 de agosto: Diálogos aos Sábados


Curso: Estudos introdutórios à Psicanálise
 
03 de setembro: Pilares da psicanálise - Rosa Squeff

17 de setembro: Ética e Psicanálise – Luciana Lara

01 de outubro: Escuta analítica – Clarice Moreira

15 de outubro – Transferência recalcamento e resistência - Silvana Henzel

29 de outubro: Analisabilidade e cura – Marina  Bangel

19 de novembro – Psicopalogia na psicanálise e na vida cotidiana – Débora Farinati

03 de dezembro - A atualidade do que escreveu Freud no mal estar na cultura




Para mais informações consulte nosso site!


4 de agosto de 2011

Direitos Humanos


Estamos fazendo contato com Alice Demarchi que tem um tabalho sobre direitos humanos que você pode conferir nos links abaixo:


www.ceavcddh.blogspot.com


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25 de julho de 2011

Cronagrama do Rodas de Conversa


Rodas de Conversa parceria da ESP/RS e o instituto APPOA: Articulando Psicanálise e saúde coletiva

Cronograma 2011

28/03/2011 - Saúde Mental na Assistência Social: Dispositivos Clínicos.
Proponentes: Maria de Lourdes Scarparo, Luciane Susin e Janete Nunes
Soares (FASC)
Interlocutoras: Ana Gageiro e Sandra D. Torossian (UFRGS e Instituto
APPOA).

04/04/2011 -  Terapia Comunitária e outras ferramentas em saúde/saúdemental
Proponente: Carlos Guarnieri (Ação Rua)
Interlocutor: Manoel da Rocha Mayer Jr. (FASC e ESP-RS)

02/05/2011 - Uma via de mão dupla: psicanálise e saúde coletiva na perspectiva da RIS (a confirmar).
Propontes: Paula Adamy; Lívia Zanchet e Carina Corrêa da Silva (ResidentesESP)
Interlocutores: Rose Teresinha da Rocha Mayer (CRRD/ESP) e Analice Palombini (UFRGS).

06/06/2011 - Crise: Psicanálise e Saúde Coletiva
Proponente: Ricardo Lugon (Psiquiatra e Psicanalista Infantil – Novo Hamburgo)
Interlocutora: Maria Gabriela Godoy (GHC/CAPS Alcool e Drogas)

04/07/2011 - Tratamentos integrativos e complementares e a Saúde Coletiva
Proponente: Silvia Czermainski (Escola de Saúde Pública/Núcleo de Estudos e Pesquisas em Assistência Farmacêutica/Rede Fito Pampa).
Interlocutores: Renata Almeida (médica, psicanalista – Instituto APPOA)

01/08/2011 – O IPF em questão
Proponente: Grupo de Trabalho Intersetorial (Vara de Execuções de Penas e Medidas Alternativas, Saúde Mental do Estado, Pensão Nova Vida, Escola de Saúde Pública, Ministério Público, IPF)
Interlocutores: Maria Palma Wolff (PUC/RS).

05/09/2011 – Pesquisa sobre o Suicídio
Proponente:  Grupo de Pesquisa UFRGS-ESP-FIOCRUZ
Interlocutor: André Brayner de Farias (PUC/RS) contribuirá com considerações éticas sobre violência, abandono e saúde coletiva.

10/10/2011 – O que a psicanálise pode contribuir à Atenção Básica?
Proponente: Eliana Mello (GHC, Instituto APPOA)
Interlocutores: Ana Carolina Simoni (a confirmar)

07/11/2011 – Sobre Grupos: possibilidades e limites
Proponente: Jaime Betts (Instituto APPOA) 
Interlocutores: a definir.

05/12/2011 - Sig Intervenções Psicanalíticas
Proponente: Bárbara Conte e equipe do projeto (Sigmund Freud Associação Psicanalítica)
Interlocutor: Claúdia Perrone


Grupos de Investigação

Prezados colegas,

é com satisfação que divulgamos o início de novos grupos de investigação que ocorrerão na SIG a partir de agosto de 2011: A construção dos laços de filiação das novas tecnologias reprodutivas, sextas feiras 15,30, quinzenal, iniciando dia 19 de agosto com a mediação de Débora Marcondes Farinati e O que pode um corpo?, com convênio com o Centro de Estudos de Filosofia da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa, sextas 15,30, quinzenal iniciando 26 de agosto com a mediação de Karin Wondracek.

Os grupos de investigação são atividades abertas a profissionais interessados nos temas estudados e não tem custo. A proposta é a discussão teórica e a produção de artigo científico, a partir do estudo.
Informações e inscrição na secretaria da SIG, fone 30627400.
Atenciosamente,

Bárbara de Souza Conte
Diretora de Ensino 

“O bagulho é doido mermão!”

“ ...  já vou ficar no lucro se passar dos dezoito,
depois que escurece o bagulho é doido. O mesmo dinheiro
Que salva também mata...”
( O bagulho é doido -  MV Bill)


Desenvolver o Eixo III do Programa RS Sócioeducativo do Governo Estadual, que consiste em uma casa de internação de adolescentes em conflito com a lei, em regime de semiliberdade, é muito inquietante e desafiador; abre dúvidas e angústias que nos levam a refletir: que questões se passaram com este adolescente ou  que escolhas fez para chegar onde está? Foi possibilidade de escolha ou falta desta? Implicados nisto estão apenas o adolescente e seus familiares ou também: o adulto receptador de produtos furtados, a professora da creche que não suportou a tal “hiperatividade” do aluno e o retirava constantemente da sala, os técnicos que atendiam crianças em secretarias de saúde e assistência social, os familiares que aceitavam “presentes” sem saber de onde vinham? Ou os “playboys” que pelo seu vício sustentam os “vendedores” e quem sabe “demais violências”?
                        Ao ouvir os adolescentes e seus familiares, deflagram-se diversas formas de carências, além das materiais, muitas de ordem psíquica, onde fica explicito em fragmentos de relatos como quando uma mãe nos diz: “eu fico mais calma quando ele tá lá” (se referindo a internação), nos apontando que por algum motivo lhe escapa a possibilidade de contenção deste filho, lhe escapa sua função de proteger  e dar limites a “cria”. Ao que percebemos, construiram maneiras  de sobreviver, de poder suportar o dia a dia, que se apresenta cheia de fragilidades, limitações, frustrações e de perdas. E, sem perceberem buscam ativamente estas perdas em cada tragada na “pedra”  ou envolvimento com amigos que são “apagados” na noite.
            Tendo a psicanálise como escolha pessoal de suporte teórico e sabendo que seu objetivo é de uma escuta desprovida de julgamentos e de nunca ir a frente mas sim, caminhando ao lado ou atrás do sujeito, penso que é necessário não só levantar questionamentos sobre este (adolescente)  e suas formas de viver, como é preciso uma psicanálise que  faça uma leitura do mundo externo, do de fora, do mundo da cultura, conhecida em Freud como “psicanálise aplicada” ou como“psicanálise extra muros” por Laplanche, sendo aquela que se propõe como uma ciência para pensar os fenômenos sociais e trabalhar com a vida humana onde ela se apresente. Até porque a adolescência é uma transição entre o laço familiar e o laço social.
            Assim, é oportuno uma crítica quanto ao nosso discurso social, que ecoa nas ruas, dizendo que são  drogados, sociopatas, e uma infinidade de rótulos, diagnósticos e olhares que os colocam num lugar marginal, no lugar de alguém que deve ser trancafiado, excluído do convívio com os demais, “criaturas” sem possibilidades de transformação. Não seria isto uma forma simples de tirarmos nossa responsabilidade enquanto cidadãos, adultos, modelos de identificação? Então o que é “bom” está em mim, o que é “mau” está no outro? Não seríamos nós, os atravessados pela Lei que repassamos valores aos sujeitos em constituição (crianças e adolescentes) para que possam viver em sociedade? Que valores são estes? De que o que vale é o “que se tem” e não “quem se tem”? O peso do ato de um jovem da periferia, privado de recursos econômicos e psíquicos, pesa mais na justa balança de nossa moral do que o roubo à população feita pelos políticos com graduação superior, ou dos filhos de diplomados que colocam fogo em índios,ou machucam negros, mendigos ou homossexuais? De onde vem esta violência, dos que devem estar “internos” em restrição de liberdade ou dos ditos cidadãos respeitados que circulam por aí? Como diria o rapper MV Bill: “teu pai te dá dinheiro/ você vem e investe/ no futuro da nação/ compra pó na minha mão/ depois me xinga na televisão/ na sequência vai pra passeata levantar cartaz/ chorando e com as mãos sinalizando o símbolo da paz...o rico me odeia e financia minha munição...a droga que você usa é batizada com sangue/ é mais financiamento/mais armas/bang-bang”
            No tocante ao trabalho no CASEMI (Centro de Atendimento Socioeducatvo em Semiliberdade), penso que este deve estar atravessado de uma escuta clínica implicada na proposta de oferecer aos adolescentes um lugar de sujeito olhado, escutado. Buscando no trabalho com estes, os significados inconscientes das suas “caminhadas”. Levantando interrogantes para que possam “se pensar”, produzindo um efeito em suas atitudes e suas escolhas futuras. A intervenção analítica deve buscar nesta relação a dois criar uma nova condição nestes sujeitos, como também, uma possibilidade de que possam denunciar os abusos que pensam ter sofrido (ou realmente tenham sofrido!), de uma sociedade onde o narcotráfico oferta mais vagas de emprego do que o Segundo Setor da economia do país; onde, quem sabe, o “pai” traficante não possibilita só um prato de comida para o autoconservativo como também a possibilidade de um olhar que lhes faltou, que lhes reconhecesse enquanto sujeito, trazendo “amparo”, “reconhecimento”, “pertencimento”? Nesse sentido é oportuno resgatar um pensamento do psicanalista Jacques Lacan: “que o sujeito só passa a existir a partir do olhar de reconhecimento do Outro”.  Portanto, que possamos com este trabalho, reconhecê-los como sujeitos de existência psíquica, responsáveis pela sua história e com sua vida.
            Enfim, para quem pensa que apenas a punição ou a restrição (internação) é a solução desta conflitiva, vem MV Bill em sua canção “O bagulho é doido” respondendo: “...se eu morrer nasce outro que nem eu, ou pior, ou melhor...”, assinala uma sentença, um destino, que acreditamos que para ser mudado devemos como sociedade pensar em estratégias de prevenção, de um olhar de constituição a nossas crianças e adolescentes como forma de poderem ter recursos internos em postergar o prazer e suportar as castrações da vida, isto é fazer surgir ligações afetivas continentes associada a garantias de direito sociais. Só assim, através do abastecimento da vida que teremos a abstenção das drogas e demais aderências da ordem da morte, tanto dos “playboys” quanto dos “manos”.

Pedro A. Pouzada Mandelli
Psicólogo do Centro de Atendimento Socioeducativo em Semiliberdade
CASEMI - Passo Fundo/RS

7 de julho de 2011

De qual realidade falamos?


            Com o desenvolvimento do conceito de inconsciente na obra freudiana, a compreensão da diferença entre a percepção consciente e a realidade externa foi sendo marcada. Em nossa investigação de mundo, abre-se espaço também à investigação sobre nossas percepções. Nosso ponto de vista pode se alterar, sem que para isso tenhamos mudado de lugar ou a realidade tenha se modificado.
Freud, ao escrever a Fliess que não acreditava mais ‘em sua neurótica’, não desconfiou do que lhe era dito, mas descobriu que o que cada um traz como sua história vivida não é a mesma coisa que os acontecimentos concretos. Uma investigação psicanalítica não parte apenas da diferença entre a realidade externa e a psíquica, mas das contradições dentro do relato de cada um sobre a sua própria percepção.
            Sonhos, fantasias, alucinações, devaneios estabelecem maneiras diversas de afastar-se da realidade. Na psicose, há um afastamento extremo da realidade, mas, na verdade, todo neurótico dá às costas a um fragmento dela. Por que este afastamento da realidade na psicopatologia? Em 1911, Freud, considerou que dar às costas à realidade está relacionado ao que é insuportável da realidade.  Insuportável!
            Refletimos, a partir disso, sobre o que é insuportável na realidade? O conceito de insuportável deve ser claro para que esta pergunta possa ser realmente uma abertura de investigação psicanalítica. O que afasta não é  simplesmente o ruim. Não apenas em 1920, ao desenvolver o que está além do princípio do prazer, mas dentro de toda obra, encontramos a preocupação com o teste de realidade. Porém, depois do conceito de compulsão à repetição, a compreensão de que há uma tendência a repetir o caminho mais facilitado, a repetir o caminho já trilhado, aponta que, para suportarmos um caminho, outros caminhos apenas abertos para repetir devem estar inibidos.  Portanto, para que algo seja suportável, não basta uma adaptação, nem um apoio, mas um lugar onde possa haver uma distinção entre o percebido e o lembrado. Entre o repetido e o novo. Entre o juízo e o julgamento.
A diferença entre juízo e julgamento é fundamental para compreensão do lugar da psicanálise. A dor, o sofrimento psíquico, a loucura, é um campo aberto para a identificação e o medo. Escutar, refletir sobre o realizado, e não sobre o que fazer com as idéias é a ação fundamental que separa as idéias do campo da descarga. Pensar sobre o que fazer com o que se sente e o que se pensa não é o campo da psicanálise. Refletir sobre o que se pensa e sobre o que se percebe do que se pensa é escutar sobre o seu lugar. Este é o campo de investigação psicanalítica.

Simone Engbrecht

16 de maio de 2011

SIG Intervenções Psicanalíticas

         A intervenção está proposta a partir da escuta psicanalítica, tendo como ponto de referência o grupo, o lugar de pertencimento de seus membros e o movimento identificatório.

            “A psicologia de grupo interessa-se assim pelo indivíduo como membro de uma raça, de uma nação, de uma casta, de uma profissão, de uma instituição, ou como parte componente de uma multidão de pessoas que se organizaram em grupo, numa ocasião determinada, para um intuito definido.” (Freud, 1921. p. 92)

            Freud, em Psicologia das Massas e Análise do Ego, formula questões a partir de um fato que, uma vez que um indivíduo seja incluído em uma reunião de pessoas, passa a sentir, agir e pensar de maneira inteiramente diferente da esperada. A condição para isso é a sua inclusão numa reunião de pessoas que adquiriu a característica de um ‘grupo psicológico’.

            No grupo SIG Intervenções Psicanalíticas, iniciamos o estudo de que seria o lugar do psicanalista à frente de grupos que buscam situar-se enquanto grupo.  A proposta de escuta foi formulada a partir das seguintes ações: ouvir a fala do grupo a partir de que cada membro possa situar-se no grupo como indivíduo deste grupo. Escutar o que significa estar em grupo, a fim de que cada um possa se escutar a partir do seu lugar e buscar apropriar-se deste lugar. O lugar de pertinência de cada um num grupo.

Cabe clarear o significado e a diferença entre pertencer e ser pertinente:

            Pertencer, segundo Aurélio(1977) significa: 1. Ser propriedade ou parte de. 2. Dizer respeito. 3. Ser próprio ou característico de. 4. Caber, competir.
            Pertinente, segundo o mesmo autor, significa: 1. Relativo,concernente. 2. Que vem a propósito

            Um grupo movimenta-se a partir da inclusão de um indivíduo e um indivíduo movimenta-se a partir da inclusão em um grupo. Como escutar o que é dito em um grupo a partir deste movimento? O lugar de abstinência de quem escuta a partir do referencial da Psicanálise é o lugar de não satisfazer o pedido de inclusão ao grupo. Alguém que ali está, mas não pertence.


         Retomando o mesmo texto em Freud, no capítulo Estar Amando e Hipnose, ele diferencia identificação da situação na qual o objeto é colocado no lugar do ego ou do ideal de ego:  “é fácil agora definir a diferença entre a identificação e esse desenvolvimento tão extremo do estado de estar amando, que podem ser descritos como ‘fascinação’ ou ‘servidão’. No primeiro caso, o ego enriqueceu-se com as propriedades do objeto, ‘introjetou’ o objeto a si próprio, como Ferenczi(1909) o expressa. No segundo caso, empobreceu-se, entregou-se ao objeto, substituiu o seu contribuinte mais importante pelo objeto(...)No caso da identificação, o objeto foi perdido ou abandonado; assim ele é novamente erigido dentro do ego e este efetua uma alteração parcial em si próprio, segundo o modelo do objeto perdido No outro caso, o objeto é mantido e dá-se uma hipercatexia dele pelo ego e às expensas do ego”(Freud, 1921.p.144)

            A escuta de um indivíduo que propicie apropriar-se de seu lugar remete a este ponto da identificação. Nomear a que se identifica a partir da referência de seu lugar. Ou seja, a partir do grupo, descobre sua identificação. A intervenção proposta a partir da escuta psicanalítica ocorre a partir da própria escuta a partir de um ponto de referência sem o investimento no mesmo ideal. Isso é identificado com o grupo, mas sem pertencer ao mesmo grupo.
           
O lugar não sendo fixo, mas sendo um lugar em movimento, abre espaço para busca de referência do grupo a partir de seu movimento e não a partir de uma referência de fora. Podemos dizer que o objeto perdido, nestes casos, é o lugar de alguém que conduz a partir de um saber. Isso está perdido e é pedido.
           
Tendo claro que a orientação fundamental do lugar do psicanalista é não pertencer ao grupo e o objetivo é que cada um escute qual é o seu lugar de pertencimento ao grupo para que possa identificar-se, traçamos a nossa referência e a possibilidade que o grupo possa escutar seu movimento.
                                                              Simone Engbrech, psicanalista. Membro do Projeto. 

Sigmund Freud Associação Psicanalítica e Interagir: um encontro frutífero

Em uma atividade com crianças carentes da comunidade a menina diz para a voluntária “o menino está passando a mão na minha amiga”. É um fato que revela a curiosidade sexual de crianças que exploram o corpo ou é a denúncia de que seu corpo é invadido pela sexualidade de um adulto e ele repete o ato com a amiga? O que é a sexualidade infantil ou sua variação traumática e intrusiva que é o abuso sexual? A equipe do Interagir nos chamou para ouvir e falar sobre a sexualidade em suas múltiplas versões.
Foi um dia de muito frio em agosto de 2009, mas que se transformou em um caloroso encontro onde experiências, dúvidas e inquietudes foram partilhadas a partir da vivência  prática de voluntários que participam do projeto social do Sport Club Internacional e de psicanalistas da Sigmund Freud Associação Psicanalítica.
O que é a Sigmund Freud Associação Psicanalítica? Uma instituição que há 21 anos está dedicada à transmissão e à formação em psicanálise e que oferece atendimento privado em sua Clínica Psicanalítica. Além disso, considera que há especificidades da infância, da adolescência e de adultos em diversos espaços educacionais, recreativos e pedagógicos que podem ser pensados com os recursos da psicanálise, o que resulta em intervenções psicanalíticas para além do espaço institucional privado. Assim nasceu o Projeto SIG - Intervenções Psicanalíticas.
Tendo em nosso nome a marca do fundador da psicanálise, não poderíamos deixar de citá-lo para fazer clara nossa idéia de que o individual e o social são objetos da psicanálise: “é verdade que a psicologia individual se restringe ao ser humano singular e estuda os caminhos pelos quais busca alcançar a satisfação de suas pulsões. Porém, raramente, sob determinadas condições de exceção, pode prescindir dos vínculos deste indivíduo com outros. Na vida psíquica do indivíduo, o outro está como modelo, como objeto, como auxiliar e como inimigo, e por isso desde o começo a psicologia individual é simultaneamente psicologia social neste sentido mais lato, porém inteiramente legítimo”. (Freud,1921,p.67)
Estas idéias de Freud inspiram nossa proposta de pensar o sujeito em seu processo histórico e social. Utilizamos a psicanálise, em seus pressupostos, para promover, a partir da escuta, capacitação, assessoria e treinamento de diferentes grupos e instituições de Porto Alegre, que desenvolvem projetos na rede pública ou privada onde a ênfase é o trabalho de inclusão/exclusão social.
Nosso momento inaugural desta proposta foi através do encontro com os voluntários e a psicóloga do Projeto Interagir. A idéia de um projeto de responsabilidade social como o do Inter, pode ser pensada na perspectiva de um comprometimento com sujeitos em um singular processo de transformação.
Neste sentido, pensamos o voluntariado como um engajamento civil que se organiza em torno de uma causa, na qual se engajam cidadãos comprometidos com uma mudança social. Esta é uma nova modalidade de voluntariado técnico, que se propõe não a um assistencialismo, mas sim a um movimento de rede que trabalhe nas alterações das relações sociais. Assim, entendemos que as ações possam ser transformadoras. O Interagir e a SIG, naquele encontro, fizeram a ação se tornar transformadora.
A Sigmund Freud Associação Psicanalítica continua seu caminho, estabelecendo novas parcerias e tratando de efetivar intervenções psicanalíticas que oportunizem mudanças na sociedade por meio da inclusão de sujeitos na rede social.

Bárbara de Souza Conte. Psicanalista. Doutora em Psicologia.

15 de abril de 2011

O mal-estar na cultura e a cultura da felicidade

(ZH, 05/09/2008, pg. 26)

Ninguém deixa de se perguntar o que é ser feliz. Ao fazê-lo, não pode deixar de indagar a respeito do que é gozar a vida. Quem sabe gozar a vida? A pergunta se impõe, uma vez que não é certo que todos o saibam, ao mesmo tempo em que é certo que todos gozam na vida, cada um à sua maneira. Cada um goza como pode. O gozo encontra seu limite, por um lado, na capacidade física e psíquica de gozar e, por outro, nos regramentos sociais a respeito do prazer. A cultura fala do ponto além do qual não posso ir. Fala do gozo perverso, aquele que não reconhece no outro um sujeito e, por isso, toma-o como simples objeto de gozo.


Não podemos abrir um jornal, uma revista ou ligar a televisão sem depararmos com o gozo a rédeas soltas: epidemia de crack, homicídio endêmico, crimes hediondos, desvio do dinheiro público para enriquecimento pessoal, pedofilia na internet e demais coisas congêneres compõem o nosso sobressaltado cotidiano. O que está acontecendo conosco? Nossa sociedade perdeu a capacidade de levar seus membros a trocar o gozo perverso pelos prazeres da vida em comunidade. A psicanálise, com Freud e Lacan, localiza o gozo num além do princípio do prazer, onde o princípio de realidade não tem vigência. Da mesma maneira, lá também a lei não tem vigência. Será possível pensar em felicidade onde a lei e o princípio de realidade não têm vigência? Onde o outro deixa de ser percebido como sujeito, aparecendo apenas como objeto de gozo? Nossa sociedade perdeu grande parte da sua capacidade de seduzir seus membros a renunciar ao gozo em favor da aceitação dos limites propostos no contrato social.

Conseguiremos reaprender a fazer isso? Nossa situação é paradoxal: se, por um lado, podemos facilmente identificar nossa cultura como a cultura da felicidade, na medida em que estimula a busca da felicidade a qualquer preço, por outro lado, é certo que produzimos também um grande mal-estar na cultura. Portanto, temos muito que pensar. É claro, dirão, temos muito que fazer. Porém, a ação que prescinde do pensamento e do planejamento prévio corre o risco de padecer do mal que quer curar: o do gozo da ação em si, sem contemplação da complexa realidade em que esta se insere. Temos muito que pensar. Não sendo assim, não seremos capazes de construir um sonho de felicidade que possa, mais que ser apenas sonhado, vir a ser, de fato, construído como realidade social.